terça-feira, 13 de março de 2007

DESEMPREGADO SOFRE!


(Com este ganhei até medalha num concurso de crônicas da faculdade...)


Na qualidade de desempregados temos que passar por cada uma, que mais parecem duas!

Certa vez, numa entrevista para disputar uma determinada vaga, fui vítima do seguinte diálogo:

- Você fuma?

- Não.

- Você bebe?

- Não.

- E quando ocorre greve?

- Você quer saber se eu bebo quando ocorre greve?

- Não, se você tem como vir trabalhar em caso de greve.

- Ah...

Dá pra acreditar? Que conversa mais confusa.

Aproveitando o ensejo, atrevo-me a dar um conselho: quando questionado sobre cigarros e bebidas, sempre diga não. Só pra garantir, afinal está na moda pegar no pé de quem fuma ou toma uma de vez em quando. E só assuma o vício do cigarro depois de expirado o prazo de experiência e da efetivação garantida. Aliás, é bem provável que o cara do RH te chame para fumar com ele várias vezes ao dia, durante o expediente. Só espero que esse mesmo cara nunca te chame para beber, ao menos durante o expediente.

Uma amiga caiu numa dessas emboscadas também:

- Quando você era criancinha emprestava suas bonecas para as suas amiguinhas?

Pensem comigo: isso poderia ter desencadeado um processo extremamente constrangedor. E se ela não tivesse bonecas? E se não tivesse amiguinhas? - Um trauma poderia ter vindo à tona e poderíamos ter tido uma cena daquelas.

Continuando:

- Depende...

Minha amiga é esperta.

- De quê? - questionou a entrevistadora.

- Sobre qual frase da infância estamos falando...

- Como assim? - questionou novamente a entrevistadora.

- A senhora não sabe que a infância se divide em várias fases? Não estudou Psicologia?

Mais uma caso, só para ilustrar!

- Com qual apresentadora de programa de TV você se identifica mais, com a loira ou com a morena? (não vamos citar nomes)

- Com nenhuma.

- Tem que se identificar com alguma!

- Nenhuma!

- Impossível!

- Não me identifico com nenhuma: são duas alpinistas sociais, aproveitadoras-de-fama-de-ex-namorados, mal sabem falar, não têm curso superior; enfim, são uma vergonha. Não consigo me identificar com nenhumas dessas pessoas.

Alguém poderia me explicar qual a relevância desta identificação para o desenvolvimento de uma carreira profissional? Eu não entendi.

Agora a derradeira. Aconteceu comigo:

- Você mora com quem?

Intrometido...

- Sozinha.

- Por quê?

- Morava com minha mãe, mas ela faleceu.

- Por quê?

Como "por quê"???

Preciso continuar? Que pergunta foi essa? Qual a maldita relevância?

É...desempregado sofre. Além de gastar sola de sapato, para conseguir emprego tem que gastar a dignidade também...que situação!

Um comentário:

Willian disse...

Estava procurando um trabalho para um terceiro (quarto na verdade!!), então por um piscar de olhos à direita do seu blog, vi os livro que gosta.
D. Casmurro, Metamorfose e Caçador de Pipas são livros que adorei (mas me nego a fazer lista).

Li esse seu texto sobre desempregado e compartilharei uma que aconteceu comigo.
Era pra vendedor. O cara que sentava a minha frente falou sobre ele. Como gírias, conjugando verbos em tempos que nunca vi e com frases que eu não sabia se estavam no plural ou não singular, de tanto que se misturavam.

Gostei do seu texto. Escreves bem.

=)