segunda-feira, 12 de março de 2007

Tia...professora!





Quando cursava a quarta série do primeiro grau, como se chamava à época, em meados de 1983, tive uma experiência traumática.

Naquele tempo, as turmas contavam com apenas uma professora, a tia. Não havia um professor por matéria, como é comum hoje em dia e estávamos, portanto, acostumados à uma rotina calma, segura e porque não dizer, de intimidade.

O nome da responsável por minha turma era Miriam, a "tia Miriam", que era carinhosa, dedicada, um exemplo de atenção e ternura para todos nós. Nos acompanhou durante todo o ano letivo, nos orientou, protegeu, acudiu nos momentos de dor e perdas de dentes-de-leite...

Veio 1984 e estávamos na quinta série. Muitos alunos do ano anterior se reencontraram e formaram uma nova turma, a quinta "C". Soava o sinal, entrava professora, saía professora, entrava professora, saía professora. Matérias novas, desconhecidas e assustadoras; novos esquemas de notas, provas, médias; novo horário, uma vez que no ano anterior estávamos no período vespertino, somente os pequeninos do primário. Agora estávamos no matutino, com todos os alunos do ginásio, colegial e segundo grau...todos enormes, a maioria fumantes e sempre nos olhando com aquele ar superior e amedrontador.

Ao final da primeira semana estávamos cansados, desanimados e amedrontados: estávamos perdidos. Não havia como piorar.

Piorou...Após mais um sinal, ela surgiu e entrou, linda, iluminada!

- TIA MIRIAM!!! - gritamos em uníssomo. Quanta alegria, que alívio, estávamos novamente em casa, protegidos.

- Não sou tia de ninguém! Vocês já estão bem crescidos, não sejam ridículos. Sou professora Miriam. - bradou a estranha. Sim, agora ela era uma estranha.

Quanta desilusão. Parecia um pesadelo. Como aquela doce "tia" se transformara numa "professora"? Nunca soubemos a resposta.

Senti-me particularmente traída e não consigo entender como tanto carinho e admiração puderam ser rejeitados e ridicularizados por uma simples professora que havia sido eleita a "tia de todos nós". E o pior, sem qualquer explicação, nos tornáramos ridículos.

Creio ter sido esta a minha primeira grande desilusão. Naquele momento aprendi que não poderia confiar em todas as pessoas, que os sentimentos nem sempre seriam verdadeiros, que pessoas poderiam ser frias e más gratuitamente e quebrar vínculos importantes com palavras duras e que, admiração e respeito nem sempre caminhariam juntos. Que bobagem...adultos!


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