segunda-feira, 12 de março de 2007

Meu elefante


Quando criança, meu irmão, muito mais velho, inteligente e herói que qualquer outro, me ensinou a desenhar um elefante. De costas! Fiquei maravilhada...Como era esperto aquele meu irmão, meu super irmão. Ensinar a alguém tão pequenininha a desenhar um animal tão grande, forte e poderoso como um elefante. Tudo bem que estava sempre de costas, mas não deixava de ser um elefante. Era uma questão de perspectiva.
Passei a desenhar aquele mesmo bicho compulsivamente, e cada vez melhor. Como estava orgulhosa do meu elefante de costas aperfeiçoado.
Mas, tudo o que é bom dura pouco e logo vieram os problemas! Quando na escola me pediam para desenhar minha casa, eis que surgia o elefante; pediam para eu desenhar a família, caprichava no elefante; os amigos...o elefante; o papai, o vovô, o titio...lá vinha o bicho. A coisa complicou-se mesmo, quando, numa festa em homenagem ao Dia das Mães, todas as mães reunidas no pátio do colégio e nós, crianças, desenhando e expressando nossos mais belos sentimentos às nossas respectivas e adoradas mãezinhas e eis, que triunfante, ele: O ELEFANTE! Imponente, grande, lindo e de costas!
Preciso dizer a dimensão do constrangimento de minha mãe? Preciso falar das expressões horrorizadas das outras mães? E sobre os comentários vexatórios e risos sarcásticos das outras crianças?
- Coitada, que desgosto! - ouviu-se ao fundo.
-Que criança problemática! Quanta vergonha...
Mamãe foi chamada pela psicóloga da escola que me sugeriu terapia freudiana, afinal, aquilo só poderia ser fruto de grande trauma (?!).
Mal sabiam que eu só queria mostrar ao mundo que era capaz de desenhar um elefante, de um ângulo todo especial. Aquele "elefantão", poderoso, grande, forte e que meu irmão, poderoso, grande e forte me deixara de ensinamento...e que de tão grande, poderia se comparar tranqüilamente ao que eu sentia por aquela mãe...a minha mãe!
Cresci, deixei de desenhar elefantes, perdi contato com meu irmão. Sinto falta desta dupla.
Minha mãe? Guardou aquele elefante com todo amor...certo que não mostrou a mais ninguém, mas guardou, bem guardadinho pra não amassar...

3 comentários:

Unknown disse...

Fê...Amei todos os textos...essa é minha amiga linda e inteligente!!! Parabéns!!! Mil bjs
Rô...

Elaine Toniolo disse...

Fê... li todos seus textos, achei o máximo, continue expressando seus sentimentos e suas realidades, logo mais vou ler seus livros!!!
Beijinhos!!!

netolopes disse...

Pow, gostei muito dos textos, principalmente do texto "meu elefante" muito bom mesmo, to fazendo ainda um blog, vou escrever ainda, se quiser ver: netoloopes.blogspot.com
Abração e se cuida ;)